terça-feira, 2 de março de 2010

Cerâmica já desativada, e desempregados aguardam indenização de Furnas

Vista panorâmica do local (Fonte: Google Earth)











Uma área de dimensões imensas será inundada para a localização de um grande lago a ser formado pelas águas do rio Paraíba do Sul, para a movimentação das turbinas da PCH de Anta, integrante do aproveitamento Hidrelétrico Simplicio. Até mesmo longo trecho da rodovia BR-393, será inundado. A tradicional Cerâmica Porto Velho, localizada na altura do km 150, já foi desalojada, tendo a empresa sido indenizada e já transferida para Vassouras, mais propriamente para o distrito de Andrade Pinto. No entanto, uma vila de casas onde residem os humildes trabalhadores e seus familiares, cerca de 120 pessoas, ainda continua aguardando uma decisão de Furnas, para que sejam desocupadas e seus moradores agora desempregados, recebam as respectivas cartas de crédito que os habilitem a adquirir um novo lar.


ABANDONADOS

O local ficou praticamente inabitável, uma vez que o único armazém e a escola já foram demolidos. Se for preciso comprar um simples pão, só mesmo indo ao centro de Três Rios. José Fernandes procurou a
A vila de casas humildes agora está cercada por uma montanha de aterro (Foto: José Barros/Agência Serra)
reportagem para reclamar do atraso que angustia a ele, seus familiares e vizinhos. “Tenho procurado os responsáveis pela usina, mas os contatos vão ficando cada vez mais difíceis.” Disse que, “da última vez que lá esteve no início desta semana, alguém informou que o responsável pelo setor, João Otaviano, está doente e não sabe quando voltará. Anteriormente, garantiram que o relocamento iria ocorrer logo após o carnaval, mas agora surgiu o novo problema. Já se fala que vai demorar ainda um bom tempo para que todos sejam devidamente indenizados”.

CERCADOS POR ATERRO

Enquanto a antiga cerâmica vai sendo desocupada, a terra procedente das obras para relocação de longo trecho da rodovia vai sendo despejada por dezenas de caminhões na margem direita do rio, formando um dique no entorno das casas, o que representa novo motivo de preocupação para os moradores. “Caso desabe um temporal, nossas casas serão inundadas”, disse Jorge Chaves, 59, que mora na casa 2. Ele trabalhava na cerâmica como queimador de tijolos e agora está desempregado.

CORTARAM A REDE DE ÁGUA

"O pior de tudo é o que fizeram com a única fonte de água potável procedente do morro próximo, localizado do outro lado da pista. Através de encanamento, a água era direcionada para uma caixa mais próxima das casas, o que era uma segurança para senhoras e crianças evitando perigosas travessias para o outro lado da pista", contou Jorge.

A Acciona, empresa responsável pela estrada, destruiu o encanamento, restando apenas uma bica existente na margem oposta, a qual está com dias contados pelo trabalho que vai sendo realizado para
Dona Doralice mostrou os riscos para se obter água: é preciso atravessar a BR-393 (Foto: José Barros/Agência Serra)
remoção da pedreira ali existente. Entretanto, todos os moradores são protegidos pelo direito adquirido, através de dezenas de anos de uso, assunto que estará sendo levado ao conhecimento do Ministério Público pelo jornal.

TOQUE DE RECOLHER

Como se todos esses problemas não bastassem, José Waldemar, morador na casa 12, informou que britadeiras funcionam durante o dia inteiro, para abrir espaço para as explosões de dinamite, na pedreira existente na margem direita, próximo a única fonte de água que abastece a todos há mais de 40 anos. "É desumano o que estão fazendo conosco. Na hora das explosões, por várias horas do dia, todos nós somos retirados das casas e levados para uma distância razoável, até que o trabalho seja concluído", disse. Segundo o informante, isso acontece logo nas primeiras horas da manhã. "Pressionados, estamos comendo o pão que o diabo amassou", disse Sabrina de Paula Jorge, da casa 11, que vive com o marido André e uma filha. Abandonados a própria sorte e desempregados, eles apelaram para o Relatos e Rumores, a fim de que alguém possa interferir para amenizar seu sofrimento.

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