quinta-feira, 23 de agosto de 2007

Sergio Neumann

O Sonho acabou!


Em junho de 1972, eu vinha a este mundo, recém nascido e ainda sem dente, já ouvia meus pais dizendo que o Brasil era o país do futuro e que tudo ia bem. Lembro-me de que quando tinha cinco anos, minha mãe com um ar triste comunicou a mim e a meus irmãos que meu pai iria demorar alguns dias para voltar para casa. Com quase dez anos de idade eu descobri que minha mãe, minha santa mãe havia mentido para nós e que o o motivo de meu pai ter estado tanto tempo longe era na verdade por ele ter ido a luta contra o regime autoritário que havia se instalado em nosso país desde 1964. Na escola aprendia siglas e nomes que nem sempre sabia para que servia como por exemplo: OSPB, DOI-COD, SNI, na sala de minha casa ouvia nomes seguidos de adjetivos que tento por vezes esquecer tais como: Coubery (FDP) do couto e Silva, Geisel (assassino), Medici (matador) e assim por diante.
Em 1981, um acontecimento em Nova York, E.U.A. abalou o mundo, eu contava com quase dez anos e nem sabia quem era o John. Para mim era mais um daqueles yanques reacionários que havia morrido e que provocavam a desordem e a morte da classe operária absorvida em trabalhos arduos e que pouco tinham tempo para lutar por melhores dias para a nação.
Veio as diretas já, oh! que beleza ouvir um careca já idoso falando por horas em nome da democracia. Lembro-me de um comicio na Cinelandia, no Rio de Janeiro onde eu pela primeira vez vi personagens que fariam a política na década seguinte. Vi o "Velho" outra vez e por um segundo vi um filme passar por minha mente ao me lembrar de quando ele, hospedado em minha casa quando eu ainda era uma criança com pouco mais de quatro anos, aquele velho me disse que não temesse dizer o que penso pois só assim eu seria um soldado da liberdade. Vi um dos filhos de meu tio me pedir para não comentar com ninguém que eu o havia visto ali, pois o seu pai, um dos coronéis do exercito brasileiro metidos em torturas e assassinatos no Brasil poderia tomar alguma atitude contra o próprio filho dado ao fato de ser este senhor um tanto Caxias. Ouvi um operário falar e suas palavras encheram o meu coração de esperança, esperança esta que nem mesmo o "Cavaleiro da esperança" quando esteve escondido em minha casa conseguiu fazer brotar em meu coração. Suas palavras vinham carregadas de todos os sentimentos de amor, nacionalismo, brasilidade e amor a raça humana que eu sempre quis ouvir, que eu sempre achei que seria o melhor para o meu país.
Aquele barbudo quem é? Eu perguntei ao meu pai e este me respondeu: Este ai é um líder meu filho, um lider e que levará a classe operaria do Brasil a um patamar de igualdade e solidariedade jamais vista no mundo meu filho. Este barbudo ai saiu lá do nordeste e foi para São Paulo, lá ele trabalhou para que o trabalhador brasileiro tivesse a dignidade e reconhecimento que ele merece e este barbudo meu filho, quando ele chegar a presidência do Brasil ele fará com que tenha valido a pena tantos anos de dor, de sofrimento a que nós temos passado ao lutar pela redemocratização do Brasil!
Ouvindo meu pai falar isto eu então, com o peito estufado dei gritos de ordem entoando o coro de jovens que gritavam: Diretas Já!!! O povo unido jamais será vencido!!! Lula e o povo construirá um Brasil novo!!! E por ai vai.
Veio o caçador de marajás. Nós ficamos meio confusos pois ainda não tínhamos engolido muito bem a morte do mineiro Tancredo Neves, quando caiu o Helicóptero matando o Ulisses também só aumentou a nossa angústia dai o Collor meteu os pés pelas mãos e nós vimos que era a hora mas...não deu. Assumiu a presidencia o Senhor Fernando Henrique Cardoso. Eu era um comunista, vermelho até na alma e o FHC estava sendo atacado pelo meu partido, porém, eu o tinha visto lá na cinelandia e foi ele quem evitou que eu e meu pai levasse uma surra da policia ao abrir a porta do carro dele e nos fazer entrar evitando assim que os três ou quatro homens da policia infiltrados na multidão nos pegassem e ele nem sabia quem era eu e acho que não sabia que estava pondo dentro de seu carro o presidente do partido comunista brasileiro. Eu então vi que não estávamos julgando as atitudes das pessoas e sim, nós estavamos fazendo apologia ao que era bom tinha que vir do partido se não, então era ruim e por isso eu decidi sair do partido e mudar alguns de meus conceitos quanto a política brasileira.
Dai acabou o governo FHC e aquele barbudo que havia inflamado o meu coração com aquelas esperanças em 1984 assumiu o poder. Eu gritei vivas e por dentro o meu coração explodia de alegria e contentamento pois sabia que enfim havia chegado a nossa hora. O povo brasileiro enfim seria respeitado e teria melhores condições de vida. Meu pai não iria morrer sem ver que valeu a pena e eu cheguei a sonhar acordado com o dia em que eu iria ter com meu pai e lhe dizer: Lembra da cinelandia meu pai? O senhor estava certo! Valeu a pena meu pai, valeu a pena! Obrigado por ter lutado tanto, ter pego em armas para assaltar bancos e assim levantar verbas para a luta armada pois agora temos o futuro brilhante pela frente e este futuro tem no comando um bravo homem.
Passou um ano, nada.
Passou dois anos, vieram os primeiros escândalos.
Passou três anos e comecei a ver que havia algo de errado.
Ao final do quarto ano eu já tinha a certeza. meu sonho foi como o de qualquer criança que sonha em voar e ir até as estrelas. Vi o meu sonho de um país mais digno dos seus era apenas uma utopia e que aquele barbudo não só havia me traído como também ele havia roubado os meus sonhos. tal como Adolf Hitler matou milhões, este que havia enchido o meu coração de esperança, havia assassinado os meus sonhos de que eu veria um país com ética e com moral, com dignidade e com trabalho.
A direita brasileira sempre me disse que era contra a mim e a meus sonhos mas este que ai está, traiu toda uma história de vida dele, do povo que o apoiou e de verdadeiros heróis que tentaram fazer deste país uma nação.

Obrigado presidente traidor!!!

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