quinta-feira, 9 de agosto de 2007

Sergio Neumann

Atendendo a pedidos!
Foi grande o numero de e-mails que recebi perguntando o porque dos elogios a este ilustre senador, que de forma brilhante defende não somente o Estado do Amazonas, mas também o povo brasileiro e a raça humana. por este motivo, eu publico aqui, em sua total integra, o discurso de Sua Exª, o Senador Arthur Virgilio - PSDB/AM em defesa do direito democrático de asilo politico a dois cubanos cansados de viver sob o julgo de um dos mais antigos ditadores do mundo.

ARTHUR VIRGÍLIO QUER EXPLICAÇÃO PARA A DEPORTAÇÃO DOS CUBANOS!

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB – AM. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) –
Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o Senador José Agripino, de fato, manteve contatos comigo e com o Presidente do meu Partido, Senador Tasso Jereissati, a respeito dessa crise, por todos os títulos, lamentável, que envolve a instituição, a partir do fato que envolve o Presidente da Casa, Senador Renan Calheiros. Tomamos, o Senador Tasso Jereissati e eu, a providência imediata de convocar uma reunião de toda a Bancada do PSDB, que se dará amanhã, durante o almoço. Após esse fato, como é a praxe do Partido, eu me manifestarei da tribuna, livre e abertamente, para a Nação.
O fato é que, como está, não é possível que a situação perdure!
Não é mais possível.
Volto a dizer, pela milésima oitava vez, Senador João Tenório, que isso não é algo que me dê alegria, que isso não é algo que me traga felicidade, mas é uma constatação.
Eu gostaria de olhar pelo lado da simples e pura racionalidade, sem qualquer análise de caráter ético, olhando do ponto de vista objetivo, hell politics mesmo, procurando me colocar pelo ângulo de análise que pudesse fazer o Presidente Renan Calheiros. No começo, parecia que o Presidente Renan Calheiros teria possibilidades de manter o seu mandato a partir do momento em que se mantivesse na Presidência da Casa. Mas a sucessão de denúncias – agora, o Procurador-Geral da República, Antônio Fernando – e de fatos...
Eu não me refiro aos fatos que a revista Veja requentou, mas aos fatos novos que têm de ser explicados, sim, pelo Presidente da Casa. São fatos confirmados pelo Sr. João Lyra e têm de ser explicados pelo Presidente da Casa.Não é possível continuarmos assim. Se a todos esses fatos juntamos a obstinação com que reage à sugestão que temos feito de se afastar da Presidência da Casa o Senador Renan Calheiros, veremos que eles só têm contribuído para erodir a formidável base de apoio com que sempre contou no plenário da Casa, tanto que, há poucos meses, elegeu-se precisamente contra o Senador José Agripino, obtendo a larga maioria de 52 votos contra 38. Portanto, não sei se, do próprio ponto de vista do Senador Renan Calheiros, S. Exª leva vantagem mantendo-se na Presidência e vendo, a cada momento, erodir-se a sua base de apoio em plenário.Insisto que é muito mais justo para com a Nação, muito mais correto para a Constituição e até muito mais confortável para o Senador Renan Calheiros afastar-se, sim, da Presidência da Casa, deixar a investigação fluir completamente, defender-se dessas acusações todas com amplíssimo direito à defesa e, ao fim e ao cabo, esperar o veredicto do Conselho de Ética, primeiro, e do Plenário, em seguida. Não fazendo desse jeito, o Presidente Renan Calheiros pode, talvez não perceba, ver a sua base de apoio no plenário se erodir e, ao mesmo tempo, contribuir para mergulhar a Casa que preside num grave momento de crise.
É uma crise tão grave que, amanhã, terei uma conversa muito séria com a minha Bancada.Não adianto o que pretendo dizer, mas é de enorme preocupação o momento que vivo como homem público, por perceber o desgaste do Senado, que todos os dias sangra um pouquinho. Há dias que sangra mais, Há dias que sangra menos. Este é um País desafortunado, onde o escândalo próximo sempre sufoca um pouco ou muito o escândalo anterior, e logo em seguida vem um novo escândalo.Havia uma polvorosa: políticos estavam com seus corações palpitando, com medo da Operação Gautama. Não se fala mais em Operação Gautama.
Houve como que uma anistia aos apontados como corruptos em potencial na Operação Gautama. Não se fala mais nisso. Apareceu o caso a envolver o Presidente Renan Calheiros.Já aconteceu outro escândalo terrível, que envolve corrupção também, que é o escândalo da queda do avião.
E o Brasil é pródigo nisso.
Daqui a pouco aparece outro e depois mais outro e mais outro.
O fato é que sempre tem havido espaço para a crise do Senado, que passou ao largo da crise do mensalão, que passou ao largo da crise que, infelizmente, abateu, durante a segunda metade do primeiro Governo do Presidente Lula, por influxo do Executivo, a Câmara dos Deputados.
E o Senado, hoje, está em marcha batida para um processo de enorme desgaste, o que é lamentável.Então, Senador José Agripino, nós estaremos reunidos amanhã, nós, da Bancada do PSDB, a partir das 12h30min, após a reunião da Comissão de Assuntos Econômicos, para deliberarmos sobre a proposta feita por V. Exª, nós, que temos posição muito claramente firmada a respeito da inconveniência que se nos afigura como absolutamente inequívoca, a inconveniência de o Presidente Renan presidir um processo em que ele é o acusado principal, com fatos novos. Volto a dizer, isso não é bom para ele sequer, que nada ganha, tendo em vista a manutenção do seu mandato, presidindo esta Casa com os fatos se sucedendo do modo como estão. Não é bom para a Casa, não é bom para o Senado; portanto, não é bom para o País!
Está causando a todos nós um incômodo.E, por isso, quando digo, Sr. Presidente, que pretendo retornar à tribuna amanhã para falar em nome dos meus companheiros, com a legitimidade que tenho para isso, devo dizer que o Brasil está vivendo de maneira tão anormal, pois, primeiro, não era normal termos essa crise; segundo, não é normal que o Senador Heráclito Fortes tenha vindo à tribuna – e fez muito bem – para tocar em um tema que não pode passar longe da nossa preocupação e não tenha falado sobre esse assunto. Só a anormalidade do momento pode fazer com que muitos de nós nos desviemos disso, até porque precisamos nos desviar disso, porque não podemos fingir que não há uma crise envolvendo o Presidente do Senado.
O Brasil rasgou a melhor tradição da sua democracia com essa deportação sumária dos dois boxeadores cubanos. O Brasil tem a tradição de conceder asilo político a todos que o têm buscado em nosso território. O Brasil já abrigou até criminosos notórios, como o General Oviedo, e, mais do que ele, o generalíssimo Alfredo Stroessner, ditador do Paraguai.O Brasil nunca negou asilo político a ninguém. Estou pedindo a presença do Ministro da Justiça, na Comissão de Relações Exteriores, e do Ministro das Relações Exteriores, porque me parece muito estranho o que se passou na Polícia Federal: as declarações de que estiveram incomunicáveis os dois boxeadores. Segundo, a rapidez com que se processou tudo isso. Terceiro fato: sabemos que, não fora a notoriedade dos dois boxeadores, seriam eles talvez condenados à morte.
Já li que eles vão passar pelo que em Cuba chamam de “casa de Visita”. Casa de Visita é o quê? É prisão? É tortura? É tortura psicológica? É lavagem cerebral? O que é aquilo? Depois da Casa de Visita, vão prestar serviços ao esporte.
Serviços ao esporte, eles prestam lutando no ringue, eles prestam com liberdade, eles prestariam vivendo no País que quisessem. Qualquer ser humano tem o direito de viver no País que queira. Posso, amanhã, resolver não morar no Brasil mais.
É um direito meu. Posso morar em qualquer lugar do mundo.
Se eu quiser, é uma opção minha e só cabe a mim e a minha família decidirmos sobre o local onde minha família e eu vamos morar.
O Brasil não poderia participar desse colaboracionismo com um governo que não tem mais espaço nos quadros do século XXI. Não tem mais espaço.
Admiro-me muito de ver intelectuais brasileiros de prestígio justificando a condenação à morte, em rito sumário, de cinco jovens cubanos que queriam fugir para Miami.Não queriam enfrentar o regime. Queriam fugir para Miami. A polícia política vai e os retira da boca do tubarão na baía. Eles iam morrer. Aquelas jangadas não chegam até Miami. Aí o Brasil se omite diante disso, e intelectuais brasileiros assinam uma carta de apoio a isso.
Fico muito triste.
Vi outro dia esse colunista admirável que é o Veríssimo, filho do imortal, aí sim, do imortal Érico Veríssimo – se tivesse que recomendar ao filho diria que ele deveria olhar muito atentamente os Lírios do Campo – dizendo que não critica o governo Lula porque ele não quer fazer coro com os reacionários que combatem Lula. Meu Deus, estamos vivendo, na cabeça dessas pessoas, alguma coisa parecida com o poder soviético: manda para uma Sibéria hipotética aquele que não concorda com o pensamento oficial, com o pensamento dominante.
Isso não faz bem a ninguém, isso causa a decepção e não é esse o papel do intelectual. O papel do intelectual é discordar, o papel do intelectual é ser crítico, questionador o tempo todo. E há pessoas que são ditas como próximas do meu Partido que às vezes me causam, elas próprias, uma enorme preocupação. O jornalista e cientista político, homem brilhante, Reinaldo Azevedo, pode criticar o meu Partido como ele faz à vontade, e muita gente diz que ele é tucano e, portanto, muitas vezes dizem que ele procura criticar mais os nossos adversários...
(O Sr. Presidente faz soar a campainha)
O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB – AM) – Já concluo, Sr. Presidente. Ele procura criticar os nossos adversários. Mas o Reinaldo Azevedo, outro dia, disse uma coisa que me estarreceu, Senador Papaléo. Ele escreve que o caminho da Oposição deveria ser esse, que esta Oposição está acostumada “a não seguir os meus conselhos”, algo assim.Gostaria de dizer para o prezado Reinaldo Azevedo, figura admirável – sou leitor de carteirinha dele – que não sou obrigado a segui-lo, como não sou obrigado a fingir que não leio e não li o que disse o Veríssimo: que não dá para se criticar o Lula sob pena de passarmos por reacionários.
Então, não se critica a corrupção porque tem gente de Direita criticando corrupção. E o Reinaldo Azevedo diz: “Olha, esse PSDB não segue o que digo”.
Ele precisa perceber que é muito bem-vindo o que ele nos diz de críticas e de palavras de apoio, mas nós não temos nenhuma obrigação de seguir o que diz o Sr. Reinaldo Azevedo.
Ele precisa compreender que, se eu não baixo a minha cabeça para essa figura de totem, para essa figura de ícone, que é o Veríssimo, eu também não baixo a minha cabeça para essa outra figura de totem e de ícone que ele é na intelectualidade brasileira.
Respeito a opinião de ambos, mas aqui estou a criticar os dois.
É deplorável o que aconteceu. O Brasil não poderia rasgar a melhor tradição de sua diplomacia, que foi nunca ter negado asilo político a quem precisou do Brasil. Os jovens que foram apanhados e chamados de traidores da pátria porque não querem morar em Cuba são obrigados a morar em Cuba. Que regime é esse! Outro dia, fui procurado por um diplomata cubano que me fez um convite para ir lá. E posso ir. Não muda a minha opinião. Já fui simpatizante do regime cubano. Não muda a minha opinião. Procurou-me com muita gentileza, deu-me um belíssimo charuto de presente. Converso com ele como converso com todo mundo.
Agora não posso imaginar que caiba, no Século XXI, um governo que não respeita minimamente os direitos humanos, um governo que considera crime alguém resolver não morar em território cubano, alguém que obriga aqueles descontentes aproveitarem uma competição esportiva para se desligarem da delegação cubana e procurarem seus caminhos de liberdade.
Disseram-me: “Ah, mas eles eram irresponsáveis”. Uma pessoa me disse isso em Manaus agora, porque que estavam em Cabo Frio com duas moças.
E digo: “Meu Deus, existe coisa melhor do que ir para Cabo Frio com duas moças?
São dois rapazes. Tem coisa melhor?
É melhor o quê: em Cabo Frio com duas moças ou em Cuba com Fidel Castro? O que é melhor? É uma questão de estética até, de bom gosto. É o mínimo. Os rapazes estavam tomando não era porre de cerveja, não; estavam tomando porre de liberdade. Estavam ali sem terem que prestar satisfações aos dictates de um governo que não tem feito outra coisa a não ser oprimir um povo que ganhou a luta pela revolução para libertar da corrupção e da tirania de Batista e depois acabou impondo valores semelhantes àqueles que eram legados pelos jovens que subiram para lutar em Sierra Maestra e depois desceram Sierra Maestra para dar um rumo novo para um país que precisava, sim, daquele idealismo que era tão apregoado – e no qual eu acreditava tanto.
O Brasil hoje a mim me envergonhou, a mim me causou profunda repulsa. Esse servilismo, essa história de ficar justificando...Vamos falar o português claro. Quando se trata de uma ditadura sanguinária de Direita, os nossos intelectuais ditos de Esquerda são absolutamente defensores dos direitos humanos; quando se trata de Fidel Castro, são reverentes, são bajulatórios até, são servis, baixam a cabeça, baixam a coluna vertebral.Então, para mim a ditadura e agressão aos direitos humanos pode ser praticada por alguém de Esquerda, por alguém de Direita, por alguém de Centro, por alguém de costas, por alguém de lado, por alguém de bruços, por alguém de barriga para cima, pode ser criticado por alguém de qualquer posição física, anatômica, fisiológica ou ideológica. Não me importa. Agressão a direitos humanos é agressão a direitos humanos, diz respeito à pessoa humana; tortura é tortura onde quer que ela se processe.
Não estou aqui para apadrinhar tortura, violência e opressão política, em nome, inclusive, de ideologias ultrapassadas. Não tem mais nada a explicar neste mundo dinâmico que nós estamos vivendo. Aquela conversa antiga “Ah porque o FMI atrapalhou o Brasil, porque o imperialismo Americano atrapalhou o Brasil” enfim... E por que Cuba não se desenvolveu, se Cuba estava livre do FMI, estava livre do imperialismo americano? Por que não se desenvolveu tão bem?
Mas sem dúvida que eu reconheço o direito de um povo de se autodeterminar. O que eu não reconheço é acharem que é normal obrigarem os dois rapazes a viverem, na melhor das hipóteses, embaixo de um regime com o qual eles não concordam, em condições de vida das quais eles discordam – na melhor das hipóteses, porque não sei o que irá acontecer com eles lá. O Senador Heráclito Fortes hoje lembrou, e me tocou muito, Olga Benário Prestes.
Como ditadura de esquerda se parece com ditadura de direita! Como ditadura se parece com ditadura! Como não dá para se fazer a distinção entre o que foi a ditadura sanguinária, perversa de Stalin e a ditadura sanguinária e perversa de Adolf Hitler! Qual é a diferença entre Stalin e Hitler? Para mim não é nenhuma.
Para mim, são dois inimigos da humanidade.
São inimigos da condição humana. Mas entregou-se, por intermédio das mãos criminosas de Filinto Müller, a mulher de Luís Carlos Prestes, Olga Benário, ao nazismo de Hitler. Hoje, estamos entregando os dois jovens campeões cubanos à ditadura sanguinária de Fidel Castro.
Eu não considero que tenha sido esse um momento brilhante da vida brasileira.O Sr Heráclito Fortes (DEM – PI) – V. Exª me permite um aparte?O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB – AM) – Permito. Quero apenas dizer a V. Exª uma coisa: quem não viu Olga, o filme baseado na biografia de Olga, escrito por Fernando Morais? Quem não viu? A filha de Prestes foi minha professora no Colégio Mello e Souza, no Rio de Janeiro. A diretora da minha escola – uma escola muito boa, que não existe mais, no Rio de Janeiro – era a professora Isa Marina de Melo Campos. Ela entendia que – e não havia nada de ideológico, não! – o mundo, cortado ao meio por aquela bipolarização Estados Unidos-União Soviética, impunha a quem quisesse se preparar para a vida aprender russo. Assim como eu recomendo a meus filhos hoje que aprendam chinês, que não deixem de aprender inglês e que não se descuidem de aprender espanhol. Filho meu diz: “Ah, mas italiano é tão bonito!” Eu digo: Mas aprenda espanhol que é mais útil para quem é brasileiro. Mas a minha diretora teve a preocupação de nos ensinar russo, e comecei a aprender russo. Lembro-me de algumas frases. Estava começando a ter um entendimento maior.
Minha professora era a filha de Luís Carlos Prestes. Eu me lembro dela com muito carinho.
Mas, de repente, se repete, em plena democracia, o gesto.E a entrega da vítima não é mais para o ditador de direita, mas para o ditador dito de esquerda. Não consigo fazer diferença.
Seis milhões de pequenos proprietários de terra foram assassinados friamente por Stalin, ele que matou até mais gente do que Hitler. Quarenta milhões de vítimas passaram por suas mãos saguinárias, sanguinolentas. Essas vítimas não são menos vítimas do que aqueles que foram trucidados nos campos de concentração, nos Auschwitzs da vida, pela ditadura de Adolf Hitler. Portanto, é um dia de luto para a diplomacia brasileira, é um dia de luto para a democracia brasileira.Sexta-feira percebi como eu estava alienado. Liguei para meu assessor de imprensa. Disse-lhe: "Ary, por favor, dê um jeito de soltar uma nota. Que publiquem ou não.
Sei que está tarde, que os jornais já estão fechados. Publique na Internet, jogue nos blogs. Que ninguém publique; não tem importância.
O importante é que é um documento que vai dizer que não estamos de acordo com isso". Naquele momento, eu tinha a esperança de que o Brasil concedesse asilo político e mantivesse aqui os boxeadores cubanos. Senador Papaléo, fui surpreendido depois com o fato de que, sumariamente, se consumou a deportação dos dois atletas.Senador Mão Santa, peço a V. Exª tolerância, porque quero dizer uma coisa. Em 1983 ou 1984, não sei, fui com o Senado Alvaro Dias, com o Deputado Hélio Duque, com o Deputado Roberto Freire, com o Deputado Sarney Filho, enfim, com uma delegação, com uma missão da ONU, a Cuba.
Vi coisas com as quais concordei, que batiam com a cabeça que eu tinha na época. Mas fui a uma escola que era dirigida por uma professora que tinha o autoritarismo no olhar. Olhei para ela e não gostei dela; ela olhou para mim e não gostou de mim. Foi desamor à primeira vista mesmo. Ela me disse que aquela escola que ela dirigia era a escola dos gênios; que as pessoas superdotadas intelectualmente iam para lá. Todo mundo fazendo perguntas, e ela dizendo que ali estavam os futuros atletas, os futuros cientistas, os futuros isso, os futuros aquilo.
E as crianças, todas elas, eram muito bonitas, porque muito bem alimentadas, muito treinadas fisicamente, muito fortes, quase que espartanos, quase que os 300 do rei Leônidas.
Em determinado momento, ela disse: “Eu concordo que se deva privilegiar os superdotados, sim; dar bom ensino para os normais, mas não prender os superdotados no nível dos normais, porque senão o Brasil não tem os seus Einsteins. Então, eu sou a favor disso”. Mas eu tinha acabado de levar, com os Deputados, um buquê de flores em homenagem aos mortos, Senador Mão Santa, na luta internacionalista pelo socialismo em Angola, em Moçambique, na Guiné Bissau.
Cuba mandava soldados para lá supostamente para defender a liberdade daqueles povos. Aí ela me disse algo que, na hora, me deu aquele prazer mesquinho de poder dizer: Puxa, eu sabia que ela não era coisa boa; agora vou poder dizer para ela que ela não é uma coisa boa. Ela disse assim: “E aqui temos tanto cuidado com o psicológico das nossas crianças que os professores e professoras são todos bonitos, todos fortes, todos saudáveis. Aqui não aceitamos aleijados”.
Eu disse: “Por favor, diretora, quero fazer uma pergunta para a senhora. A senhora disse o que eu ouvi, que a escola não aceita aleijados?” Ela disse: “Lógico que não aceitamos”. Eu disse: “Mas acabei de sair de uma cerimônia em que fui levar flores para o soldado internacionalista desconhecido. Cuba chama de heróis aqueles que lutam supostamente por liberdade na Guiné Bissau, em Moçambique e em Angola. Quem sai na chuva é para se molhar; quem vai a guerra mata, morre, sobrevive inteiro ou aleijado. Pergunto: um herói internacionalista desses não pode dar aula para as suas crianças? Ficou aleijado, não pode dar aulas para as suas crianças?” Ela disse: “O senhor é insolente”. Eu disse: “É verdade. A senhora me conhece há pouco tempo. Sou uma pessoa insolente mesmo. Fui muito malcriado pelo meu pai”. É um fato: insolente diante dos poderosos. Isso é algo que aprendi com o meu pai, em uma lição dada a ele pelo Senador Daniel Krieger: arrogante com os arrogantes e humilde com os humildes; arrogante com os poderosos e humildes com os humildes. Eu disse: “A senhora tem razão. Não vim aqui para concordar com a senhora. A senhora pensa o quê? Sou um Deputado brasileiro. Luto para acabar com uma ditadura que estamos conseguindo começar a derrotar no Brasil. Não vim aqui para ficar ouvindo, bebendo verdades inescapáveis da senhora. Estou espantado de a senhora me dizer que os heróis internacionalistas não podem dar aula para os seus alunos geniais se porventura esses heróis ficarem mutilados na luta por liberdade em Angola, em Moçambique, na Guiné Bissau! A senhora me dê licença, porque há um pôr-do-sol belíssimo, e vou aproveitar para dar uma corrida no Malecom. Não tenho que ficar aqui com a senhora. Desculpe-me”.
Fui embora.Isso ocorreu em 1983 ou 1984.
Não dá para fazer separação entre ditadura de esquerda e de ditadura de direita. É ditadura, e temos é de cuidar de preservar a democracia brasileira, inclusive condenando veementemente a fragilidade e a tibieza do Governo nesse episódio. Estou envergonhado de ser brasileiro neste momento.Concedo um aparte a V. Exª, Senador Heráclito.O Sr. Heráclito Fortes (DEM – PI) – Senador Arthur Virgílio, espere, que o Governo amanhã vai soltar notas, dizendo que o pedido de asilo não estava formalizado e coisas dessa natureza.
Com tudo isso, esses dois atletas, que não eram figuras comuns, eram figuras notórias porque estavam medalhados pelo Brasil, tinham, se comuns fossem, 30 dias para justificar a atitude e regularizar a situação no País. Aproveitou-se o fim de semana e a calada da noite para repetir o episódio da Olga Benário. Quero ver quem será o Filinto Müller de todo esse jogo sujo e nojento. Digo isso, Senador Arthur Virgílio, porque tenho a memória às vezes muito fraca, mas acho que V. Exª estava comigo na Academia de Tênis no lançamento do filme Olga, onde estavam o diretor, Jayme Monjardim, a Camila Morgado e mais alguns atores do filme.
E vi alguns petistas chorando, aos prantos, em solidariedade à dor que todos sentimos e que envergonha nossa História do episódio vivido pela Olga Benário. No dia seguinte, houve uma proposição aqui de se retirar inclusive o nome de Filinto Müller de uma das dependências do Senado Federal. Eu era membro da Mesa e, baseado em decisões anteriores, dei um parecer contrário. A medida era para evitar troca permanente de nome de qualquer dependência da Casa, e vinha sendo seguida há muito tempo. O assunto morreu. Está lá a Ala Filinto Müller.
Não tenho compromisso com Filinto Müller; V. Exª não tem compromisso com Filinto Müller.
Os responsáveis são os que tiveram a idéia de homenageá-lo. Não é o nosso caso. Porém, quero saber o que os petistas, Senador Eduardo Suplicy, vão fazer.
Que posição o PT vai tomar com relação à atitude do Governo de entregar, de mão beijada, os dois atletas cubanos ao regime de Fidel – crime, em democracia, mais grave do que o que ocorreu com Olga Benário? Com Olga Benário, vamos nos lembrar: houve processo, houve defesa. A justiça manipulada é outra coisa, mas prazo ocorreu. Nesse caso, não.
Em menos de uma semana, Senador Eduardo Suplicy, a sorte desses rapazes estava sacramentada.
É preciso saber quem foi Senador Suplicy, o Filinto Müller desse crime contra a liberdade no Brasil e os direitos humanos. Parabenizo V. Exª, Senador Arthur.O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB – AM) – Obrigado Senador Heráclito.
(Interrupção do som.)
O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB – AM) – Antes de conceder apartes aos Senadores João Tenório e Papaléo, eu queria dizer algo a V. Exª – inclusive me ocorre um lapso, porque esqueço o nome dele; talvez o Senador Suplicy possa me socorrer: Cuba tem uma tradição no boxe amador fantástica.Há dois grandes nomes: um é deputado, naquele simulacro de Parlamento que existe lá. E é o nome dele que estou esquecendo. Isso é imperdoável.
O outro é Félix Savón. Mas o primeiro, cujo nome me esqueci, é mais importante. Ele era visto como alguém que, se fosse para os Estados Unidos e se profissionalizasse, teria de fazer um regime para ganhar peso e poderia enfrentar Muhammad Ali.
Era visto como o único boxeador talvez capaz de, tecnicamente, enfrentar, de igual para igual, Muhammad Ali. George Foreman o enfrentava na força bruta, e Joe Frazier, no fôlego.
Teófilo Stevenson; hoje, Deputado Teófilo Stevenson. Pois aquele boxeador de nome francês, que foi deportado, é uma glória para o esporte olímpico, à altura de Félix Savón e de Teófilo Stevenson, para ficarmos no boxe; e, se formos para o atletismo, de Javier Sotomayor.
Por tudo isso, é lamentável.Senador João Tenório.O Sr. João Tenório (PSDB – AL) – Senador Arthur Virgílio, V. Exª, talvez, tenha sido responsável por um dos mais brilhantes momentos que presenciei nesta Casa hoje à tarde. Não vou acrescentar nada ao seu pronunciamento, até porque não cabe, não há espaço para isso. Mas eu gostaria de dizer que V. Exª, com o brilhantismo que caracteriza seus pronunciamentos em geral e, particularmente hoje à tarde, conseguiu emocionar o País. Pelo menos me emocionou muito, porquanto demonstrou a quebra de uma das coisas mais importantes para o povo brasileiro, que é a solidariedade. Então, no momento em que o Governo brasileiro tomou a iniciativa de entregar ao Governo cubano dois jovens que tinham aspiração de buscar um ambiente de vida melhor, decepcionei-me.
O que é interessante, Senador, aproveitando a oportunidade, é notar que não existe a via contrária. Nunca ouvi dizer que alguém foi jogar futebol em Cuba e resolveu ficar lá ou coisa que o valha. Isso sempre acontece no sentido contrário. Gostaria apenas de registrar a emoção que sinto pelas suas palavras neste momento e tenho certeza de que V. Exª sensibiliza toda a Nação brasileira, porque mostra o constrangimento em relação a algo que é muito forte para o nosso povo: a solidariedade. Muito obrigado.O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB – AM) – Obrigado, Senador João Tenório. Veja V. Exª que não podemos aceitar como normal um cidadão ser visto como traidor porque diz: “Não quero morar neste País! Eu não quero morar neste País!” Se um brasileiro disser isso, ele pode ir embora. “Não quero morar neste País!” Ainda encontramos gente que vive sei lá em que década do século passado, talvez ainda nas décadas primeiras da primeira metade do século passado, que diz que não; que, em nome do ideal socialista, vale a pena tudo.Fui treinado para explicar que a invasão da Hungria tinha razão de ser porque defendia o ideal maior do socialismo. Isso foi um desrespeito brutal à autonomia de um povo.
Fui treinado para explicar que a Tchecoslováquia foi invadida porque havia um Governo que estava ameaçando o socialismo naquele País e que era, portanto, necessária a intervenção a favor da Tchecoslováquia, a favor do povo trabalhador, do proletariado da Tchecoslováquia pelas forças do Pacto de Varsóvia, liderado pela União Soviética.Meu Deus! Arrependo-me disso? Eu não me arrependo nem um pouco. Não me arrependo de nenhuma idéia a qual me dediquei com amor. Hoje, vejo com nitidez qual foi o resultado daquilo: passivo ideológico, fracasso econômico, erros de análise brutais. Perdura ainda – não podemos mais nem chamar Cuba de socialista – Cuba, sustentada pelo tresloucamento do quase ditador da Venezuela, que, praticamente, doa 100 mil barris de petróleo/dia para Cuba, nesse seu delírio de se transformar em suposta liderança sobre o Caribe, para tentar virar uma liderança latino-americana. Fracasso absoluto!Por outro lado, negaram tudo aquilo que parecia o mais essencial, que era o compromisso inarredável com a liberdade de se fazer arte, com a liberdade de se fazer arquitetura, com a liberdade de se fazer imprensa, com a liberdade de se fazer crítica. Não dá para continuar essa dicotomia. Critica-se quando a conveniência aponta que é para se criticar; faz-se vista grossa, como o Brasil tem feito nos foros internacionais, quando a conveniência aponta que é para se fazer vista grossa. Creio que, simplesmente, temos de partir de uma premissa bastante básica: quero saber quem vai me dizer – sinceramente, pode ser o compositor mais admirado, pode ser a figura mais sensível do País para algumas coisas –, em sã consciência, que o cidadão não tem o direito de morar onde quiser? Não tem o direito de morar onde quer; tem de morar lá. Fora isso, é traidor: traidor da Pátria, traidor do socialismo, traidor não sei de quê!O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT – SP) – V. Exª me permite um aparte?O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB – AM) – Antes de V. Exª, o Senador Papaléo.O Sr. Papaléo Paes (PSDB – AP) – Senador Mão Santa, solicito a V. Exª que conceda tempo necessário ao Senador Arthur Virgílio.
(Interrupção do som.)
O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB – PI) – O Senador Arthur Virgílio representa aqui o direito de liberdade de ir e vir, que deve ser salvaguardado, não por esta Casa, mas por todos aqueles que defendem a democracia.O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB – AM) – Obrigado, Sr. Presidente.O Sr. Papaléo Paes (PSDB – AP) – Fiz esta solicitação para ter a honra de fazer um aparte no pronunciamento do Senador Arthur Virgílio, que faz com que o PSDB se torne nesta Casa um Partido como é, grandioso, pela sua Liderança. Parabenizo-o. V. Exª faz uso da tribuna há cerca de 30 minutos e, logicamente, abordou diversos assuntos importantes, como a questão política e regimental deste País. O ponto que mais nos constrange na atitude do Governo brasileiro é exatamente a deportação desses dois cidadãos cubanos, atletas, que, logicamente, já fizeram muita propaganda para Cuba, mas que, estafados do regime cubano, resolveram ficar no Brasil. Lamentamos muito a decisão do Governo brasileiro e não conseguimos entender por que o governo petista, um governo que sempre considerou a democracia a salvação de um país, no caso do Brasil, agiu desta maneira. Por que essa subserviência ao governo cubano? Não entendemos também.
Talvez, muitos ultrapassados petistas ainda tenham o modelo idealpara sua ideologia, o regime cubano, que é realmente um fracasso. Se existe um modelo de fracasso para o regime de um país, é o fracasso do Governo cubano. Aliás, aproveito para perguntar ao Senador Eduardo Suplicy, que já foi questionado pelo Senador Heráclito Fortes, como S. Exª explica essa situação. O Presidente da República pode até fazer isso, mas como se explica o Partido dos Trabalhadores não reagir contra essa atitude escabrosa que nos envergonha, fazendo com que esses dois atletas, que decidiram ficar no Brasil, pois não querem mais morar em Cuba, sejam obrigados a voltar para Cuba, correndo o risco de serem fuzilados ou enforcados – sei lá o que eles fazem lá para punir quem não quer mais morar lá? Senador Arthur Virgílio, isso nos envergonha. Temos de reagir e de mostrar ao Governo brasileiro que nós, por uma atitude governamental, estamos passando vexame, por nos apresentarmos como detentores de um regime democrático. Muito obrigado, Senador Arthur Virgílio.O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB – AM) – Obrigado, Senador Papaléo Paes.Antes de conceder o aparte ao Senador Eduardo Suplicy, volto a fazer essa pergunta, batendo nessa tecla. Por exemplo, amanhã, resolvo renunciar ao meu mandato e, se minha família concordar, vamos morar eu, minha mulher e meus filhos em Havana. Por que o contrário não pode acontecer? Outro exemplo: quero morar na Índia. É um direito meu. Não completo minha vida sem morar na Índia. Ou não completo minha vida sem morar em Bali – o Senador Heráclito Fortes diz que, para Bali, iria comigo. Ou não completo minha vida sem morar em qualquer outro lugar! Onde está o crime em alguém dizer “eu não quero morar em Cuba”? Onde está o crime? Traidor da pátria! Eu não agüento essa conversa. Sinceramente, isso é conversa para boi dormir e para desmoralizar intelectual que ainda ouse assinar manifesto de apoio a essas agressões infames aos direitos da pessoa. Envergonharam-me os que assinaram o manifesto, justificando o assassinato – porque o nome daquilo é assassinato –, a sangue frio, daqueles cinco rapazes que queriam ir para Miami, mas foram apanhados no meio do caminho e, de volta a Cuba, foram fuzilados. Por quê? Nem conspiradores contra o regime eram. Eles queriam fugir dali, eles queriam sair dali. Não! Você não pode nem fugir daqui. Você tem de voltar para cá, e, chegando aqui, eu te fuzilo!Senador Suplicy, tenho certeza de que, pelo seu passado humanista, pela sua convicção democrática, V. Exª está, pelo menos, tão revoltado com isso quanto eu.Concedo o aparte a V. Exª.O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT – SP) – Senador Arthur Virgílio, ontem, quando li o artigo do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, publicado no jornal O Globo, sobre a visita que o Presidente Lula realizará nesta semana ao México e aos países da América Central, animei-me bastante, especialmente com uma passagem que, inclusive, estou disposto a registrar e a comentar hoje e que se refere ao tema que V. Exª aborda. Vou ler três breves frases desse artigo.“Por isso [diz o Presidente Lula] tenho defendido a construção, na América do Sul, de um espaço economicamente integrado, socialmente solidário e politicamente democrático. São esses mesmos valores que me fizeram incluir também a América Central e o Caribe nesta minha viagem. Sei que o México vem desenvolvendo projeto de integração com seus vizinhos na fronteira sul, com ênfase na construção de uma infra-estrutura física.” E aí o ponto que está mais relacionado ao nosso diálogo. “Em nosso continente [diz o Presidente Lula] não precisamos de muros, precisamos de estradas, pontes, gasodutos e linhas de transmissão. A verdadeira integração faz circular livremente não apenas mercadorias e serviços, mas também pessoas e idéias.” O Presidente Heráclito Fortes, da Comissão de Relações Exteriores, e V. Exª mesmo, certamente, muita vezes, me têm ouvido falar aqui e na Comissão de Relações Exteriores que avalio como da maior importância que a integração do nosso continente, do Mercosul, da América do Sul, da América Latina e das três Américas seja vista sempre não apenas do ponto de vista do interesse do capital que deseja a livre circulação dos fluxos financeiros, dos bens e serviços, mas sobretudo do que é mais importante, dos seres humanos. Estou de pleno acordo quando V. Exª diz que deveremos procurar assegurar a cada cidadão das nações, do Alasca à Patagônia, dos Estados Unidos à Argentina, inclusive de Cuba, do México, do Brasil, da Argentina, da Bolívia, da Venezuela, de onde for, a livre circulação. Precisamos caminhar na direção de se assegurar essa livre circulação. Só então haverá plena integração. V. Exª conhece muito bem a história da União Européia, o seu início, logo após a Segunda Grande Guerra, com a Comunidade Européia do Carvão e do Aço, com o Mercado Comum Europeu, com a comunidade de livre comércio das nações mais ao norte, quando, pouco a pouco, foi-se criando o Banco Europeu, o Euro, a livre movimentação das pessoas. E, hoje, diferentemente do que ocorria há 30, 40 anos, os gregos, os espanhóis, os portugueses, se o desejarem, podem, conforme V. Exª disse, viver, trabalhar e estudar ali na Itália, na França, na Alemanha, nos países mais desenvolvidos! E a integração está sendo de tal ordem, que, atualmente, contrariamente do que ocorria há 30, 40 anos, quando os portugueses, espanhóis e outros saíam de seus países com economia mais fraca e sem tantas oportunidades de emprego, a situação é tal que esses mesmos povos, graças ao bom resultado da integração decorrente dessa livre circulação, não apenas de bens, serviços e capitais, mas dos seres humanos, podem escolher onde viver, trabalhar e estudar. Então, é preciso que digamos também ao Governo do Presidente Fidel Castro, de Cuba, que queremos a real integração. V. Exª sabe que tenho sido muito favorável, algo que reitero, a que o Governo dos Estados Unidos termine com o bloqueio que não permite que as empresas norte-americanas possam vender bens e serviços a Cuba. Tenho...
(Interrupção do som.)
O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT – SP) – Sr. Presidente, peço mais uns minutos porque se instalou um debate...O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB – PI) – Quarenta e sete minutos foram usados, Senador Arthur Virgílio. Vou conceder-lhe mais três minutos, e foram os 50 minutos mais bem gastos pela liberdade democrática.O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB – AM) – V. Exª foi generoso, Sr. Presidente.O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB – PI) – Pela auto-afirmação deste País, generoso em receber todos. Lembro que viveu aqui até o assaltante do trem pagador, Ronald Biggs, traduzindo uma política de relações deste País.O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT – SP) – Pois bem. Acho importante que digamos ao Governo do Presidente George Walker Bush, que também não permite hoje a livre circulação de pessoas, inclusive vem construindo um muro, que Thomas Paine diria que contraria inteiramente o bom senso, e que possamos conclamá-lo a acabar com o bloqueio, porque tenho certeza de que isso ajudará no processo de democratização de Cuba.
No que diz respeito ao episódio dos lutadores cubanos, também fiquei muito preocupado quando soube que os campeões Guillermo Rigondeaux e Erislandy Lara, de 26 e 24 anos, haviam abandonado a delegação de seu País e estavam como que desaparecidos. Acompanhei o noticiário dizendo que um empresário alemão os havia persuadido de alguma forma – não sei os detalhes –, utilizando-se de métodos que precisam ser mais bem conhecidos. Fiquei extremamente preocupado quando vi a notícia de que estariam detidos e que estavam para ser encaminhados ao seu País antes mesmo de haver um melhor esclarecimento de tudo. Gostaria de ter visto a entrevista de ambos, em total liberdade, para a imprensa brasileira. Estranhei que não tivessem dado declarações. Acho que isso precisa ser objeto de um melhor esclarecimento. Acho importante que o Presidente Fidel Castro tenha publicado, em carta ou artigo, uma declaração firme, dizendo que de maneira alguma esses pugilistas serão objeto de qualquer punição e muito menos serão presos em Cuba. Acho importante que possamos assegurar que esses dois pugilistas que vieram ao Brasil representar seu país no Pan, que tiveram a possibilidade de se tornarem exímios pugilistas...
(Interrupção do som.)
O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB – PI) – Caro Suplicy, acabou o seu tempo, vamos passar para o.. Eu o inscrevo aqui, e V. Exª será chamado.O Sr. Heráclito Fortes (DEM – PI) – Senador Mão Santa, diante do espírito democrático e a importância desse assunto, vamos deixar que o Senador Suplicy exerça o seu poder de síntese e explique, porque isso é muito importante. Aliás, é o único petista aqui na Casa. Tivemos presente o Senador Paim rapidamente, e agora o Senador Eduardo Suplicy, que é um peregrino da democracia pelo mundo inteiro. De forma que estou ouvindo com muita atenção e acho da maior importância o que está dizendo o Senador Eduardo Suplicy. Rogo a paciência de V. Exª.O Sr. Papaléo Paes (PSDB – AP) – Senador Mão Santa, também apelo a V. Exª para que dê a oportunidade ao Senador Eduardo Suplicy de, brevemente, dar a resposta que o Senador Arthur Virgílio solicitou.O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB – AM) – Se o Senador Marcelo Crivella pudesse brevemente externar a sua opinião, seria muito honroso para mim.O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT – SP) – Se me permite então, Presidente Mão Santa...O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB – PI) – Eu permito. Agora, é o representante aqui, o pastor de Deus que quer falar.O Sr. Marcelo Crivella (Bloco/PRB – RJ) – Eu aguardarei, Sr. Presidente.O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT – SP) – Quero transmitir a V. Exª, Senador Arthur Virgílio - que aqui expressa também a vontade de que todos tenhamos direito a livre movimento em nosso continente e nas três Américas -, que espero que possamos melhor esclarecer este ponto. Inclusive, quando estava vindo do aeroporto e ouvi pela Rádio Senado o pronunciamento de V. Exª, de pronto telefonei ao Ministro interino, Samuel Pinheiro Guimarães, que estava em reunião, e pedi que possa dar esclarecimentos mais completos, se possível ainda nesta tarde, sobre o que realmente aconteceu. Embora tenha sido dito, pela autoridade policial e por aqueles que os conduziram até o hotel, que eles voluntariamente disseram que desejavam voltar para Cuba, que haja uma melhor explicação. Gostaria de ver essa declaração sendo efetivamente feita, quem a ouviu, quais foram as pessoas presentes e em que circunstâncias. E acho que esse episódio poderá contribuir para que venhamos a dizer, com muita firmeza, ao Presidente hoje licenciado Fidel Castro que é preciso – e queremos colaborar – que Cuba dê total liberdade aos seres humanos de ir e vir. Assim como também gostaria que o Governo dos Estados Unidos, Poder Executivo e Congresso Nacional, viesse logo a terminar com aquele muro que separa os Estados Unidos do México, que faz lembrar o muro de Berlim; no paralelo 38, o muro que separa a Coréia do Norte da Coréia do Sul; o muro que separa Israel da Cisjordânia, apesar de o Presidente George Bush ter sugerido ao Governo de Israel que não construísse aquele muro. Além desses, também o muro que separa os Estados Unidos do México e do restante da América Latina, de maneira consistente como V. Exª defende, precisa ser terminado.O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB – AM) – Senador Eduardo Suplicy, V. Exª sabe da admiração que tenho por V. Exª. E vou aqui, Sr. Presidente, fazer uma confissão à Casa e à Nação: tolo é quem subestima a habilidade política de V. Exª. Não é à toa que V. Exª construiu a carreira tão vitoriosa com essa marca inédita em São Paulo de três mandatos seguidos de Senador da República. Isso em São Paulo é inédito. Ninguém logrou obter essa façanha.V. Exª, que é o humanista que eu conheço, usou de um tão brilhante contorcionismo verbal que eu comecei a achar que quem tem que tomar cuidado com V. Exª é o meu amigo Chanceler Celso Amorim, que está com o cargo dele ameaçado, porque V. Exª é mais hábil que ele, e ele é muito hábil. V. Exª conseguiu não dizer e conseguiu, ao mesmo tempo, manter a simpatia e o respeito que sempre mereceu de mim.Serei bastante objetivo na resposta para V. Exª. Vou começar aqui pelo fim: V. Exª diz que a notícia é que os rapazes saíram voluntariamente daqui; quem conhece o histórico deles sabe que eles foram muito mais de bater na cabeça dos outros do que apanhar na cabeça. Então, não tinham nenhuma avaria cerebral, voluntariamente não iriam. Não estariam presos lá?Vamos agora para o jargão do qual eu estou – eu não queria usar a palavra –, eu estou com aquilo cheio desse jargão. Não é prisão! Segundo a ditadura cubana, eles estão na “casa de visitação” – o que quer dizer isso não me pergunte, eu não sei. Depois terão que prestar – eles, que, pela magnanimidade do Comandante, não serão condenados à morte e, segundo o Comandante, também não serão presos perpetuamente – serviços ao esporte.
Fidel Castro é um enfermo mental, porque serviços ao esporte eles prestam lutando por medalhas nos ringues das competições Pan-Americanas, Olímpicas e Mundiais. Eles não têm de prestar serviços recebendo lavagem cerebral, e serviços como se fossem alguém que, por uma multa em trânsito, tem de lavar a privada do Asilo Dr. Thomas, em Manaus. Eles prestam serviço ao esporte lutando, e eles devem ter o direito de lutar onde eles queiram.A minha amiga Maureen Maggi, se quiser competir na Argentina, vai embora para a Argentina amanhã. Meu amigo Oscar, ele pode sair daqui – e já fez isso quando foi jogar na Itália. Amanhã, o Giba tem um contrato não sei com quem... Ronaldinho Gaúcho está jogando na... Lá não pode! Senador Suplicy, lá não pode!Isso mostra o caráter doentio de um governo que, se fosse suspenso o bloqueio, esse regime, Senador Mário Couto, não agüentaria seis meses na convivência com a parte moderna do mundo. Mas V. Exª sabe, até porque foi o meu parceiro em muitas lutas; V. Exª sabe, porque V. Exª e eu – e o Senador Heráclito – ajudamos muito um colega nosso, muito querido, Márcio Santilli, que foi o grande artífice, na Comissão de Relações Exteriores, na luta pelo reatamento de relações com Cuba. Fui a favor e não me arrependo. Lutei muito por aquilo. Como entendo que foi acertada a posição do Chanceler San Tiago Dantas, abstendo-se, corajosamente, naquela conferência de Punta del Este, quando os Estados Unidos propuseram a exclusão de Cuba do sistema interamericano. Nunca fui a favor dessa segregação.Agora, vamos estabelecer... E V. Exª falou em Bush, é uma coisa meio pavloviana, ou seja, não dá para falar mal de Fidel Castro sem se falar mal de Bush. Isso me parece uma coisa um pouco do PT.
Então, eu vou dizer o que eu penso de Bush.
O Presidente Bush é um desastre! É um desastre estratégico!
Clinton colocou no jardim da Casa Branca Isaac Rabin, Yasser Arafat, os radicais israelenses, os radicais palestinos. A falta de lucidez política do Presidente Bush fez todas essas tratativas voltarem à estaca zero e prevaleceu o terror. A intervenção no Iraque não foi por outra razão que não a econômica. O Presidente Bush queria assenhorear-se de reservas que lhe garantissem petróleo barato de outros países. O petróleo visado era o do Iraque. Conseguiu interromper a produção de petróleo do Iraque. É por essas razões e por outras que o barril tipo Brent, hoje, custa US$60,00, o bastante para sustentar o desvario do candidato a ditador da Venezuela, Hugo Chávez. Considero o Presidente Bush um desastre sob o ponto de vista da paz mundial, da condução econômica dos Estados Unidos.O Sr. Marco Maciel (PFL – PE) – Mas Senador Arthur Virgílio, o Senador Suplicy é tão competente que conseguiu não falar mal de Fidel Castro e ainda pôs V. Exª para falar mal de Bush.O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB – AM) – É verdade. E eu não tenho por que defender o Presidente Bush, até porque entendo que ele é um desastre mesmo. Vai deixar uma marca pequena na história americana. Considero que o grande estadista da segunda metade do século XX, acima de Kennedy, foi o Presidente Bill Clinton. A história vai fazer justiça a ele.O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB – PI) – Senador Arthur Virgílio, todos nós temos um ícone. Sei que o de V. Exª foi o melhor: o senhor seu pai, um líder aguerrido da Oposição. O meu é Petrônio Portella.Paulo Brossard falava dessa tribuna três horas e trinta minutos. E foram necessárias para a recuperação da democracia. Aí o Petrônio estipulou o limite para ele de uma hora, V. Exª está há uma hora.
O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) – Desculpe, eu vou encerrar.
O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) – E quero ficar fiel àquele Líder do Piauí que concedeu uma hora. O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) – Vou ouvir o Senador Crivella. Mas, Senador Crivella, só para concluir em relação ao Senador Suplicy vou dizer uma coisa. O bloqueio, sou a favor de que se suspenda o bloqueio, sim, aquele regime não resiste a seis meses sem o bloqueio. Sobreviveu aquele fracasso, aquele fracasso administrativo sobreviveu com os rublos da União Soviética e sobrevive hoje com o peso venezuelano, com os petrodólares venezuelanos. Não sobrevive, não tem a menor capacidade de auto-sustentação.
O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) – E apelando para o ícone nosso, Cristo: Ele fez o Pai Nosso em um minuto. Todo mundo ficou satisfeito. O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) – É verdade. Eu concluirei, Sr. Presidente, vou concluir.V. Exª, Senador Suplicy, faz aqui uma comparação que também julgo que mereça reparos. O Mercado Comum Europeu se implantou em um processo que levou cinco décadas para se tornar União Européia, mas uma das questões fundamentais era a democracia, ou seja, o Portugal salazarista, a Espanha franquista não fariam parte jamais da União Européia, é por isso que eu não poderia nunca imaginar como correta a admissão no Mercosul da ditadura que se instala pouco a pouco na Venezuela sob o comando do coronel Chávez. O pressuposto do MCE, do Mercado Comum Europeu, era a adesão à cláusula democrática. Cuba não tem absolutamente, sob Fidel ou sob Raúl Castro, a menor perspectiva de se tornar uma nação democrática. Mas queria parabenizar V. Exª e dizer ao meu amigo, meu amigo o Chanceler Celso Henrique Amorim que V. Exª está ameaçando...
(interrupção do som)
O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) – Senador Arthur Virgílio, o que sei de Itamaraty eu aprendi com V. Exª, daqui a pouco sou eu que vou ter um lugar lá no Itamaraty.
O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB – AM) – Senador Crivella, para encerrar, realmente.
O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) – Porque quero passar a palavra ao orador inscrito.
O Sr. Marcelo Crivella (Bloco/PRB – RJ) – Sr. Presidente, não vou...
O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB – PI) – V. Exª está inscrito.O Sr. Marcelo Crivella (Bloco/PRB – RJ) – Estou inscrito, mas não passo de...
O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) – Olha a bandeira, Crivella: Ordem e Progresso. V. Exª está inscrito, e o Senador Colombo está aguardando pacientemente. Senador Arthur Virgílio, eu gostaria de ouvi-lo, mas a inscrição “Ordem e Progresso” na bandeira nos faz lembrar o Regimento.O Sr. Marcelo Crivella (Bloco/PRB – RJ) – Sr. Presidente, apenas quero lembrar ao Senador Arthur Virgílio que, às vezes, realmente fico de certa forma constrangido ao ver como os meus companheiros, sobretudo da Base do Governo, não conseguem ser claros em relação a um regime autoritário que freqüentemente se extravasa, com derramamento de sangue. Quero acrescentar ao brilhante pronunciamento de V. Exª algo que vi nos Estados Unidos e que me tocou profundamente.
(Interrupção do som.)
O Sr. Marcelo Crivella (Bloco/PRB - RJ) – Os imigrantes cubanos ilegais, quando cometem algum delito, são presos. Encontrei um homem em uma prisão do Arizona que havia sido condenado, cumpriu a pena, e os americanos queriam extraditá-lo. Não havia mais interesse de ficar com ele lá. Mas Cuba não o aceitava de volta. Portanto, esse senhor estava condenado à prisão perpétua. Vai morrer na cadeia. O que farão as entidades de defesa dos direitos humanos? Cuba não ouve nenhum apelo. Eu e o Senador Hélio Costa, atual Ministro das Comunicações, ficamos comovidos e fizemos apelos. Nada adiantou. Esse regime que precisa ser execrado pelo mundo livre, pelos cristãos, pelos não-cristãos, pelos que respeitam a liberdade, é seguramente a maior afronta à liberdade dos homens no mundo atual. Parabenizo V. Exª.O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB – AM) – Encerro, Sr. Presidente, agradecendo ao Senador Marcelo Crivella. E solicito apenas meio minuto para dizer apenas o seguinte: há gente que se enche de indignação – e justa indignação – ao condenar as atrocidades de Pol Pot ou do atual ditador da Coréia do Norte, e eu condeno essas atrocidades todas. E há gente que não consegue condenar as atrocidades do regime cubano. Eu condeno por entender que não há diferença alguma entre ditadura de cor nenhuma em relação a ditadura de cor qualquer. Não sei, precisaríamos fazer aquele laboratório do sono. Minha intuição é de que estou dormindo melhor do que as pessoas que fazem essa seletividade, condenando convenientemente e fechando os olhos quando seus tabus ideológicos lhes ordenam fechar os olhos. Direitos humanos, para mim, é uma questão fundamental. Agressão não pode ser feita, parta de onde partir, venha de onde vier.
O repúdio tem de ser imediato, ou nós não merecemos a democracia por que tanto lutamos para ver erigida neste País.
Muito obrigado, Sr. Presidente.
Era o que tinha a dizer.

Nenhum comentário:

Postar um comentário